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segunda-feira, 12 de julho de 2010

AKPHAEZYA - "Anthology II: Links From The Dead Trinity" - 2008

 

AKPHAEZYA
“Anthology II: Links From The Dead Trinity”
2008

A relação que tenho com este trabalho dos franceses Akphaezya é de espanto e de enigmas, no qual me deparo a contornar esquinas e a caminhar por labirintos onde subitamente encontro sentidos e sentimentos que procurava sem saber o que procurava. Esta frase talvez seja a frase chave para ilustrar o que sinto quando ouço este trabalho. E a prova disso é que ele mereceu algumas escutas para que as minhas palavras fossem justas.

A primeira escuta foi um desastre: e senti uma monotonia e desinteresse enquanto me deixava levar pelos variados sons e texturas. Mas foi a variação de sons e texturas que me deram as pistas para me aventurar numa segunda viagem, como se fosse uma caça ao tesouro. E percebi que o som deste trabalho é chamativo e que puxa o ouvinte. Contudo, sinto que esse chamamento só é recíproco se o ouvinte se abrir com o trabalho; caso contrário fica apenas pela primeira viagem, monótona ou desinteressante; ou arrisca-se mesmo a ficar pelo meio e a praguejar a desfavor destes franceses (eu já vou na minha terceira viagem, mas também praguejei na minha primeira).

E o que podemos encontrar nesta viagem e nesses sons tão chamativos que eu ilustrei nas frases anteriores? O Metal é presença. Mas, este Metal é como um daemon, ou um intermediante que comunica com outras entidades (neste caso outros estilos). Esta posição faz-me pensar que o Metal é apenas o carril onde passa o que é importante – a fusão com os outros estilos. E podemos encontrar a leveza refrescante da Clássica, a esquizofrenia do Jazz, o exótico da étnica (seja parisiense com a sua concertina a dar o seu ar bizarro, seja médio-oriental que tão bem se funde com o Metal, e que nos faz mexer o corpo) e mesmo um ou outro ritmo latino e um cheiro de reggae. O leitor deve estar a pensar como soará esta caldeirada. Pois! É aqui que jaz ora a repulsa ora o chamamento dos enigmas. Porque apesar de parecer uma mixórdia, o álbum apresenta um fio condutor e por incrível que pareça não nos sentimos perdidos (pelo menos na segunda viagem).

No meio desta caldeirada é a vocalista/teclista que devemos aplaudir por ser tão versátil e conseguir contagiar o ouvinte com as suas mutações vocais. Claro que os restantes músicos são fantásticos, sem dúvida, e conseguiram trabalhar as músicas misturando os vários estilos mantendo sempre o factor cerebral. Tudo aqui denota inteligência. Mas, apesar de tudo, o “Anthology II: Links From The Dead Trinity” corre o risco de passar ao lado de muitos ouvintes por não ser um álbum imediato e exigir atenção e várias entregas e descobertas (fenómeno raro nestes tempos do imediato, da rapidez e da quantidade).

Resta-me, para finalizar, escrever sobre o conceito desta banda e do seu álbum de estreia.

Começo pelo nome da banda: AKPHAEZYA é o nome de um mundo numa era medieval, do qual apenas temos relatos de histórias e lendas. Esse mundo vem retratado no CD num mapa, para que fiquemos com uma imagem de como ele é. As personagens são, também, um factor importante para quem queira entender o trabalho conceptual dos Akphaezya. E de facto, se tiverem vontade de ler as letras podem notar o desenrolar que há entre as várias personagens.

Os leitores devem estar a questionar porque é que o álbum de estreia é o segundo de uma antologia. Segundo informações, o tempo em Akphaezya não é entendido do mesmo modo como o entendemos. E por isso, o sucessor do Anthology II será o Anthology V.

Para além de toda a imaginação e trabalho do mentor deste colectivo, devo salientar o artwork que acompanha a experiencia auditiva. Stephan H. destaca que Akphaezya pode ser apreciado pelas três vertentes artísticas: som, imagem e texto. Tal só denota que houve um grande trabalho por detrás do Anthology II. O guitarrista também sugere que a audição deste trabalho pode ser apreciada como um todo, ou simplesmente música a música. Isto porque cada musica conta uma história, e os ambientes criados em cada uma delas pretendem ilustrar os sentimentos de cada personagem; e por isso há muitas variações no instrumental e na voz, precisamente porque a história pede todas essas mutações. Talvez por isso não seja tão despropositado o uso de Jazz, por ser um estilo tão livre e louco.

Uma boa surpresa!
 
Fiquem com o vídeo da música “Botlle Of Lies”, que retrata a história (genialmente desenhada) contada nessa música.


Post-Scriptum:
O Metal tem a característica da facilidade de se fundir com outros estilos. Não significa que não tenha uma identidade; mas significa que também não é fechado em si mesmo. Akphaezya faz uma comunhão muito boa e decerto que atrairá tanto os fãs de Metal como os de Jazz. Contudo, creio que uma mente aberta é pré-requisito.

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